Não é todo dia que um executivo da Globo assume publicamente que uma aposta da emissora fracassou. Em uma entrevista reveladora concedida ao TV Pop, Amauri Soares admitiu que Um Lugar ao Sol “não teve o desempenho” esperado pela empresa e minimizou os índices de Pantanal, afirmando que a novela de Bruno Luperi cumpriu o objetivo de recolocar o horário em seu patamar histórico. Além disso, o diretor-geral da rede e de suas afiliadas revelou que não foi o responsável direto pela escolha de Travessia, trama que estreará na noite desta segunda (10).
“Eu sou um cliente dos Estúdios Globo. Os meus colegas, Ricardo Waddington e o José Luiz Villamarim, que administram essa questão de autores, projetos e sinopses para os três horários de novelas que nós temos na TV Globo. Travessia não foi uma escolha minha. Aqui, nós temos um grande processo de avaliar histórias e de fazer escolhas conforme a faixa horária. Todas as Flores será para o Globoplay primeiro, mas a gente vai exibir mais pra frente no ano que vem, em televisão aberta, como novela das onze, enquanto Travessia estreará já agora”, pontuou o executivo.
Para o chefão da líder de audiência, “ter duas novelas das nove é maravilhoso para nós [a empresa] e para o público”. “Aqui na Globo, nós temos um processo de avaliar as histórias e de fazer escolhas conforme a faixa horária. Temos um planejamento, em que um autor escreve uma novela, tem um período de descanso e depois volta para escrever uma história nova. Para depois de Pantanal, nós tínhamos dois autores incríveis e duas sinopses incríveis aprovadas. E nós decidimos fazer as duas novelas”, afirmou Soares.
“Com a chegada do Globoplay, todo o nosso planejamento acabou tendo um aproveitamento melhor. Mas a escolha foi feita pelos Estúdios Globo, que nos trouxe as histórias, as sinopses, e a gente foi vendo o conjunto da grade para decidir qual o melhor momento para cada uma das tramas ir ao ar”, arrematou o diretor-geral do canal. Na sequência, Amauri Soares topou falar pela primeira vez sobre o fracasso de Um Lugar ao Sol, finalizada em março como o maior fracasso da história moderna da rede no quesito audiência de novelas das 20h/21h.
De acordo com ele, a trama de Lícia Manzo não foi capaz de agradar nenhum dos elementos envolvidos em sua produção. “Eu te garanto que aquela não não era a novela que a autora queria, não era a novela que o diretor queria, tampouco a novela que a Globo queria. Ela foi a novela que foi possível. Temos que lembrar que ela foi um folhetim gravado durante o isolamento social, que teve incontáveis problemas de produção, que teve que ser totalmente editada antes de ir para o ar, teve que ser reduzida por conta do agravamento da crise sanitária”, justificou.
“Um Lugar ao Sol uma novela que foi muito prejudicada pela situação inteira. E eu te digo que ela sequer foi exibida como uma novela: caberia aqui uma discussão técnica, inclusuive. Uma das grandes características de uma novela é ser uma obra aberta, com o autor vendo o que está dando certo ou não. E ela não teve a chance de ter isso, estava pronta e editada antes de ir pro ar. Porém, era o que dava pra fazer naquele momento… mas nós, mesmo durante o isolamento social, com reprises, atingimos enormes audiências”, defendeu o executivo.
“Totalmente Demais superou a exibição original, A Força do Querer foi ótima, aquela do Aguinaldo [Silva] também, elas deram números de tramas inéditas. Antes do isolamento social, Amor de Mãe teve uma performance boa. A novela em questão foi muito prejudicada pela situação inteira. Mas mesmo assim, eu tiro meu chapéu para os colegas dos Estúdios Globo, que conseguiram fazer uma trama em meio ao caos. Mas de fato, Um Lugar ao Sol não teve o desempenho que a gente queria”, confessou.
Questionado sobre as expectativas da Globo para os resultados de Travessia, Amauri Soares desconversou e minimizou os índices de Pantanal — segundo ele, é “injusto” dizer que a nova versão da história da TV Manchete reergueu o horário nobre da emissora. “Eu acho injusto dizer que Pantanal reergueu o horário das 21h. Ele sempre teve muita vitalidade. A gente veio com Pantanal e recolocamos o horário no seu patamar histórico, com a qualidade habitual do produto”, disparou o diretor, que justificou o motivo de sua colocação.
“Estamos falando de uma trama que não sofreu, que não tivemos problemas com o elenco… por isso, acho injusto dizer que ela recuperou a faixa. Os números do horário sempre foram esses, sempre com essa entrega de audiência. É a principal faixa da TV brasileira e as novelas seguem mostrando vitalidade. Pantanal teve a capacidade de criar uma conexão em torno de uma história. Foram homens, mulheres, ricos, pobres, jovens e não jovens assistindo… e isso foi muito importante. Nós tivemos uma história muito mobilizadora, e esse é o grande mérito de Pantanal”, afirmou.
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Por fim, a reportagem do TV Pop questionou Soares se o horário avançado de Travessia — a novela chegará a ser encerrada depois das 23h em sua primeira semana — poderia afugentar parte do público interessado em acompanhar a nova novela das nove. O executivo defende que o horário tardio nunca prejudicará um folhetim da Globo, e defende que a história poderá ser beneficiada por conta dos bons índices que o Jornal Nacional vem alcançando com a cobertura das eleições.
“Nós não acreditamos que a eleição e o horário avançado possam prejudicar Travessia. A cobertura eleitoral tem se mostrado uma mobilizadora de audiência, as pessoas estão interessadas em ver esse assunto. Nós estamos vendo muito interesse em novelas, basta acompanhar a audiência que Pantanal teve mesmo em meio ao Horário Político… ela conseguiu marcar o melhor share da faixa horária em seis anos. O horário nunca vai prejudicar uma novela das nove”, concluiu.
