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Como o “fan service” pode transformar o rumo de uma história

Kobayashi, Tooru e Lucoa, de Miss Kobayashi's Dragon Maid (foto: Reprodução/Crunchyroll)
Kobayashi, Tooru e Lucoa, de Miss Kobayashi's Dragon Maid (foto: Reprodução/Crunchyroll)

Pensando um pouco sobre o assunto desta semana para a coluna, encontrei um conceito que permeia a cultura dos animes mas que também tem um pé nos filmes e séries ao redor do mundo, que é o fan service. Embora a expressão demonstre significados distintos de acordo com o tipo de conteúdo consumido, já que foi absorvida por outros domínios, há algumas semelhanças no seu uso.

Antes de qualquer coisa, o fan service nada mais é do que o ato de satisfazer um telespectador através do uso de informações que podem não ser relevantes para o andamento de uma história. É um termo originário do mundo dos mangás e animes, vindo literalmente de “servir” o telespectador.

Miss Kobayashi’s Dragon Maid é o fanservice em sua mais pura forma (foto: Reprodução/Crunchyroll)

Nestas obras, esse feito é demonstrado de diversas formas, como personagens femininas com um busto enorme ou mordomos com seus smokings remetendo a estudantes de ensino médio atraídos pelo amor. Além disso, existem muitas referências entre obras, que não se limitam a um canal ou produção. Alguns exemplos infalíveis são os episódios de animes ambientados em fontes termais, banheiras e praias recheadas de garotas em trajes de banho ou até as dezenas de referências a Neon Genesis Evangelion encontradas por aí.

Aliás, Evangelion foi praticamente um precursor dessa cultura. O diretor Hideaki Anno havia prometido inicialmente que “cada episódio traria algo para que os fãs se deleitassem”, mas logo desistiu da ideia e removeu imagens exageradas de episódios posteriores, deixando-as entrepostas em situações bem específicas, como um trauma emocional de um personagem.

Enquanto no Japão há uma categoria inteira para conteúdo do gênero, do nosso lado do mundo, o fan service tem um papel um pouco mais sutil. Por aqui, o prazer ao telespectador é garantido através de uma aparição inesperada de um personagem ou ator famoso, uma homenagem, uma quebra da quarta parede, além do também vasto mundo das referências, que costumam ser um pouco mais limitadas a um mesmo determinado universo de produções, ao mesmo tempo que mostra seu poder através, principalmente, de paródias. Quem não se lembra das grandes aparições de Stan Lee nos filmes do Universo Cinematográfico da Marvel?

Com o que você se importa? Você passa entre homens mais rápido que a Taylor Swift (foto: Reprodução/Taylor Swift)

Algumas tentativas mais ousadas podem surtir um efeito contrário, como foi o caso da nova série da Netflix Ginny e Georgia que se aproveitou de um momento específico para usar a cantora Taylor Swift de gangorra para uma piada. Apesar de não ser exatamente um roteiro direcionado a um fanservice, mostra que referências precisam ser usadas com cuidado. A cantora trava guerras contra o machismo desde os primórdios da sua carreira e usou as redes sociais para retaliar a cena.

Ei, Ginny & Georgia, 2010 ligou e quer a sua piada preguiçosa e profundamente machista de volta. Que tal pararmos de diminuir mulheres que trabalham duro ao definir essa bosta como EnGrAçAdA. Inclusive, Netflix, depois de Miss Americana, esse figurino não cai bem em você. Feliz Mês da História das Mulheres, eu acho”.

Existe uma linha tênue entre o fan service e o sucesso que pode romper a partir do momento em que há um risco de falhar na execução ou se tornar um clichê muito batido – o que não é difícil. No entanto, ser clichê não necessariamente é ser ruim e muitos animes só se tornaram sucessos por causa do engajamento adquirido só pela satisfação de ter emoções positivas extraídas de um momento bom. Não vai demorar para começarmos a reparar no que assistimos e questionarmos até que ponto certas decisões foram inteligentes.

Miss Kobayashi’s Dragon Maid está disponível na Crunchyroll e teve sua segunda temporada confirmada para julho. Neon Genesis Evangelion e Ginny e Georgia estão disponíveis na Netflix.

Caio Alexandre é entusiasta de cinema, exibição, animes e cultura pop em geral. Escreve desde 2008 sobre os mais variados assuntos, mas sempre assumiu a preferência pelo cinema e sua tecnologia embarcada. Não dispensa um filme com um balde de pipoca e refrigerante com o boss no fim de semana. No TV Pop, fala sobre tudo que é tendência no universo da cultura pop. Converse com ele pelo Twitter, em @CaioAlexandre, ou envie um e-mail para [email protected]. Leia aqui o histórico do colunista no site.

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