Confirmando rumores que já circulavam no mercado há alguns meses, a Jovem Pan, uma das mais tradicionais rádios do Brasil, irá ingressar também no ramo da televisão. A informação partiu da Meio&Mensagem, tradicional fonte de informação do meio publicitário, nesta última segunda-feira (5).
Antonio Augusto Amaral de Carvalho Filho, o Tutinha, CEO do Grupo Jovem Pan, prevê estrear em maio o Canal 24 News Jovem Pan – 24 horas de notícias em uma emissora com transmissão pela parabólica, TV por assinatura, YouTube e em player como Fire TV, Amazon, Pluto TV, ViacomCBS e na própria Panflix, plataforma de conteúdo on demand do mesmo grupo lançada no ano passado integrando rádio e internet com investimentos de R$ 30 milhões.
A Jovem Pan terá uma série de desafios para ingressar no mundo da TV: há obstáculos do ponto de vista editorial à esfera de distribuição, passando por uma série de temas como casting, grade de programação e sobretudo o futuro – a JP está fazendo um movimento que é o inverso do mercado, afinal ela primeiro lançou uma plataforma de streaming para depois chegar à TV.
Com um editorial inclinado à direita, marcado pelo espaço dado a nomes como Rodrigo Constantino, Augusto Nunes e J.R Guzzo (e responsável por projetar Caio Coppolla antes de ele migrar para a CNN), e outros menos inclinados, mas ainda assim distantes da esquerda, como Paulo Mathias e Samy Dana, a Jovem Pan hoje é vista como um reduto bolsonarista na imprensa.
Não é o objetivo deste texto analisar o governo Bolsonaro, mas, caso seu término ocorra no dia 31 de dezembro do próximo ano e a oposição assuma o comando do poder executivo do país, como se moldará o editorial do grupo?
A Jovem Pan manterá sua inclinação à direita, tornando-se opositora a um eventual novo governo, ou adotará uma postura firme como a do Grupo Record — que é governista, independente de quem esteja no poder (uma espécie de PSD ou MDB da comunicação)? O que o seu telespectador irá cobrar após um eventual fim do bolsonarismo e o que pensa Tutinha sobre esse futuro?
Distribuição
A chegada à TV pode parecer um tanto tardia. Segundo o site Teleco, que é especializado em informações do universo telecom, existiam em janeiro deste ano cerca de 14,6 milhões de acessos de TV paga no Brasil. Para efeitos de comparação, no primeiro trimestre de 2020, esse número era de 15,2 milhões. Indo um pouco mais longe, em 2017, o total de acessos estava em 18,1 milhões.
Em um modelo de remuneração onde os canais recebem majoritariamente pela quantidade de assinantes (e menos pelo intervalo comercial, como ocorre na TV aberta), faz sentido se investir em um setor que há anos está ruindo?
Há sempre a opção de se pagar pelo conteúdo: pacotes de assinatura similares aos dos jornais, onde para se ter acesso a reportagens, vídeos, podcasts, é necessário embolsar um determinado valor. Mas se para os jornais, que há anos tentam se rentabilizar desta forma, chegando a vender assinaturas por R$ 2 mensais, a situação não é fácil, dirá para uma rádio que sempre entregou informações de forma gratuita para os seus ouvintes.
A rentabilização do conteúdo, seja pela internet ou pela venda do canal nos pacotes de TV paga, será um dos maiores obstáculos para fazer com que o projeto da Jovem Pan pare de pé.
Mas não é impossível
Diferente da CNN, que precisou ser erguida do zero, a Jovem Pan tem uma vantagem: ela já possui um time de jornalistas, uma grade de programação estabelecida, uma marca sólida e, desde o ano passado, estúdios modernos e boa parte dos equipamentos necessários para se tornar uma TV.
É claro que o conteúdo precisará de adaptações, afinal rádio e internet são diferentes de TV. Mas trata-se de uma distribuição distinta: a produção de conteúdo já está estruturada e a forma de distribui-lo também. O que será necessário é concatenar o conteúdo com a distribuição ao que o telespectador da TV tem interesse de assistir.
O rádio tem muita força pela manhã, atraindo a atenção de ouvintes que estão no trânsito, ou no final do dia pelo mesmo motivo. Já a TV tem o horário noturno como nobre, onde há pesados concorrentes e há o desafio de se mostrar que a Jovem Pan, escutada no começo do dia, também pode ser uma opção de informação no final do mesmo e em uma outra modalidade – agora na TV.
O projeto da Jovem Pan na TV precisa, antes de tudo, ter uma curadoria editorial que consiga amenizar seu tom direitista e permita que o telespectador possa lhe dar uma chance. Seria um grande tiro no pé caso o canal começasse com a mesma fama que possui no rádio. Acertando este tom, será mais fácil trazer bons nomes do mercado para o projeto e consequentemente criar vínculo com o público. E o telespectador é que ganhará com mais uma fonte de informação.
João Gabriel Batista é publicitário, com pós-graduação em Marketing and Sales na Escola de Negócios Saint Paul e MBA em Gestão Empresarial pela FGV. Tem 29 anos e atua com marketing há 11, com passagens por veículos de comunicação, como emissora de TV, rádio e jornal, e multinacionais do segmento de telecom. É analista de mercado e negócios no TV Pop, com publicação nas terças. Converse com ele por e-mail em [email protected]. Leia aqui o histórico do colunista no site e conheça o seu perfil no Linkedin.