Márcia Goldschmidt, uma das apresentadoras mais populares e conhecidas da televisão brasileira, concedeu uma entrevista exclusiva ao programa A Noite é Nossa, da Record, que será exibida nesta quarta-feira (21). Ela falou sobre a vida pessoal, o afastamento da TV e contou detalhes sobre seu programa que apresentava no SBT nos anos 90. Márcia disse que teve depressão depois que Silvio Santos tirou a atração que levava seu nome do ar e que Hebe Camargo (1929-2012) não falava com ela.
Pela primeira vez, a artista abre sua mansão de veraneio na Espanha para relembrar momentos de sua trajetória pessoal e profissional. Fora da TV desde o fim do programa Márcia, na Band, em 2011, a comunicadora de 58 anos recebe a repórter Vanessa Reis e a equipe da atração da Record em sua casa, localizada em uma região nobre de Marbella, na Espanha. Uma de suas vizinhas é uma princesa da Áustria.
“Eu posso dizer que fiquei fora do mundo durante sete anos. Foi o período que dediquei a salvar a vida da minha filha. Agora é que eu começo a botar o nariz para fora. Posso fazer tudo agora”. Márcia se refere ao período em que ela e o marido, o advogado português Nuno Rêgo, tiveram de cuidar do tratamento de uma doença rara da filha chamada atresia de vias biliares. O filho mais velho da apresentadora, Jimmy, foi quem doou uma parte do fígado para que a irmã recebesse o transplante sete anos atrás.
Em uma fase mais tranquila, Márcia não descarta uma volta para a TV. Ela conta que em 2020 esteve no Brasil e chegou a negociar com um canal, mas não revela qual. “Nós tínhamos encontrado uma forma que eu pudesse trabalhar e não ter que voltar para o Brasil. Eu ia e vinha, gravava e voltava… mas aí começou a pandemia e a gente teve que abortar essa operação. Era um canal que precisava crescer o seu público e precisava de uma pessoa, de uma imagem que falasse com a multidão do Brasil. E acharam que era eu”, afirma.
Márcia Goldschmidt ficou nacionalmente famosa no SBT, onde apresentou um programa que levava o nome dela e chegava a registrar altos índices de audiência nos anos 90. “O povo era o protagonista, o povo era o artista, né? E isso fez o sucesso do programa. As pessoas assistiam e falavam assim: ‘Sou eu ali, Márcia’, ‘aquele é o meu vizinho’”, relembra sobre a reação do público.
O sucesso foi tanto que, com apenas cinco meses no comando da atração no SBT, Márcia Goldschmidt recebeu uma proposta de Boni, então diretor da TV Globo. “Ele me fez uma proposta e perguntou: ‘Quem vem com você?’. No voo [do Rio de volta para São Paulo], eu comecei a ter uma dor e desci já desmaiando do avião. Tive uma crise renal”, conta. Do hospital, ainda internada, a apresentadora revela uma ligação que recebeu da secretária de Silvio Santos, que já havia descoberto sobre a proposta da emissora carioca. “Um carro do SBT foi me buscar e eu entrei na sala do Silvo ainda com o soro na veia, foi cena de cinema. Ele falou: ‘Quanto você ganha aqui no SBT?’. Eu falei: ‘Ah, Silvio, eu tenho minha carteira’. E ele: ‘Como? Você não tem contrato com o SBT?’. Ele tocou pro RH e caiu a cabeça de um diretor. Na hora, mandou chamar um advogado e aí fez um contrato muito bom”.
Apesar de ter declinado da oferta na Globo, pouco tempo depois Márcia foi colocada na “geladeira” do SBT. O motivo para que ela saísse do ar é até hoje um mistério. “Foi um ano em que eu tinha vergonha de sair na rua. Porque as pessoas me perguntavam: ‘Márcia, por que você não tá mais no ar?’, ‘Márcia, eu gosto tanto do seu programa’ , e o que eu ia responder? Eu não sabia responder. E também procurava essa resposta pra mim mesma. ‘O que aconteceu?’, ‘que mal eu fiz?’, ‘o que eu fiz pro Silvio?’, eu não sei. Fui vivendo esse um ano de ostracismo e fui entrando em uma depressão profunda”.
A gota d’água para Márcia Goldschmidt aconteceu no Teleton, a maratona televisiva exibida pelo SBT em prol da AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente), evento do qual a maioria dos artistas da emissora participa. “Liguei para o departamento de produção e me falaram que eu não estava convocada. Eu falei: ‘Por quê? Eu sou funcionária, sou contratada do SBT’. Passam algumas horas: ‘Ah, nós refizemos aqui a grade e você está no Teleton’. Eu pensava: ‘Vou readquirir algum respeito, alguma dignidade profissional, não fiz nada de errado’. Bem, qual é o meu horário? 5h da manhã”, conta Márcia sobre a decepção.
Porém, no encerramento do mesmo Teleton, em 2000, Márcia acabou convidada por executivos da TV Gazeta para assumir o programa “Mulheres”. E não hesitou em assumir o comando da atração. “[Tempos atrás] Eu já havia pedido minha rescisão para o Silvio e falei: ‘Não quero ganhar seu dinheiro sem trabalhar. A minha liberdade não tem preço’. E ele falou: ‘Márcia, eu não vou te liberar. No dia que alguém te contratar, eu te libero. Até lá você vai receber o seu salário’. Aí fui para a Gazeta e depois meu advogado tratou dos trâmites de rescisão com o SBT. E recomecei do zero”.
Reconhecida por sua personalidade forte, Márcia afirma ter construído relações carinhosas de amizade durante seu período na TV, principalmente com os apresentadores Gugu e Marcelo Rezende. E à equipe do A Noite É Nossa responde sobre os rumores de má relação com Hebe Camargo: “Durante um período, ela não falava comigo. Mas não quero falar da Hebe, pois seria uma grande falta de caráter e respeito da minha parte. Se eu não falei enquanto ela estava viva para contestar, por que eu faria isso agora? Seria muito pequeno da minha parte”.
Márcia também comenta sobre o momento em que foi surpreendida, ao vivo, por um homem armado que invadiu o palco de seu programa. “Eu comecei a gritar quando ele foi preso e parei de gritar só três dias depois. Foi uma situação inédita no mundo”, relembra. No momento da invasão, havia 230 pessoas na plateia e a apresentadora recebia na atração o então cantor Waguinho. “O Waguinho achava que era uma brincadeira porque ele estava participando do quadro Visita Surpresa”.
Na época, apurou-se que o invasor havia procurado a produção do programa porque queria o direito de visitar os filhos. Porém, Márcia conta que não poderia aprovar o caso, pois corria em sigilo de Justiça. A apresentadora permaneceu nove anos no ar pela Band, a última emissora em que trabalhou. “Eu me sinto quase uma Saad. Quase uma Márcia Goldschmidt Saad. Sabe que foi mais difícil largar a Band do que largar a televisão?”
Sobre sua saída da TV, Márcia conclui: “Na época em que tomei a decisão de deixar a televisão foi porque eu não estava feliz. Estava faltando alguma coisa na minha vida e eu não sabia dizer o que era. Então, decidi largar tudo. Foi uma decisão muito difícil. Mas depois de tudo o que passei, acredito que a minha missão de vida era ter essas filhas [as gêmeas Yanne e Victoria]. E essas filhas chegariam através de Portugal, entende?”. Márcia se mudou para Portugal 10 anos atrás, em 2011. Desde o início da pandemia, em 2020, ela, o marido e as filhas vivem na mansão de Marbella, na Espanha.