Maju Coutinho está a frente do Jornal Hoje há menos de dois anos, mas está há 14 anos na Globo. Em entrevista a revista Vogue, a jornalista falou sobre a glamourização da profissão. “É ralação, não tem glamour. Eu durmo cedo, leio jornal todos os dias pela manhã antes do expediente e estou cansada na maioria do tempo. Não acho bom alimentar a fantasia de que é tudo fácil, luxuoso e lindo quando na verdade é muito pé no chão e trabalho”, contou.
Maju cresceu na Vila Matilde, zona leste de São Paulo e revelou ter sido cercada por debates sobre racismo estrutural e identidade negra durante a infância. “Tinha plena noção do que era ser negra desde pequena e das dores que isso implicava. Minha família me orientou bastante em relação aos meus direitos já que a cor mais escura de uma mulher negra é sempre mais animalizada e sofre mais preconceito”, pontuou ao relembrar o caso de racismo que sofreu nas redes sociais em 2015.
Sobre a importância do jornalismo em 2021, Maju afirmou ter orgulho de exercer a profissão. “O cinquentenário do JH chega nesse momento histórico para a humanidade: temos uma crise econômica no Brasil e, além da crise sanitária, estamos enfrentando a desinformação. Exercer o jornalismo profissional num veículo tão importante me dá um baita orgulho e responsabilidade”, disse ela.
“É uma coisa comum quando chegam grandes momentos: primeiro existe a negação e depois vem a hora de lidar com essa realidade. Acredito que só no futuro, quando olharmos para esse momento com uma certa distância, teremos a noção do que ele foi e significou. Ainda é muito difícil avaliar porque estamos no meio da turbulência, no meio do furacão”, revelou.
A apresentadora falou sobre a sua carreira na bancada do JH, a jornalista disse ver evolução de quando era plantonista para agora como titular. “Nossa, totalmente, sempre tem algo para melhorar. Consigo ver a evolução do rodízio de plantonista para hoje como titular. É um caminho eterno e tenho essa busca constante em mim. Meu sonho é tentar ser o mais coloquial possível mesmo falando de STF, mas é uma caminhada. Comecei tateando esse espaço até conseguir imprimir a minha personalidade, e tudo isso vem carregado de certa ansiedade. Hoje, me sinto mais confortável e calma”, afirmou a âncora.
Maju Coutinho analisou que a maior dificuldade de ser jornalista em tempos tão difíceis é encontrar o tom certo para as reportagens. “Não dá para ter a frieza de tratar a morte como simples números, mas também não posso sair chorando junto com cada família que conta sua história de luta e dor. Dar o tom na medida certa é sempre uma busca intensa e diária. Completamos um ano de pandemia num cenário ainda pior do que em 2020. E aí começa a dar aquela canseira de precisar tirar energia, mesmo sem saber de onde, para continuar noticiando. É preciso equilibrar vários pratos ao mesmo tempo”, explicou.
Após o episódio de racismo que a jornalista viveu em 2015, ela analisou os avanços para a representatividade no mundo. “Temos vários avanços e 2020 foi um ano marcante que deu um choque na sociedade com os protestos de antirracismo como o do George Floyd, nos Estados Unidos, e o do João Alberto aqui no Brasil”, relembrou.
“Hoje, eu vejo as telas das tevês um pouco mais escuras. Não tão escura quanto eu acho que deveria estar, mas é um avanço muito grande se comparado a quando eu comecei no jornalismo. Agora, tenho várias colegas com o cabelo parecido com o meu, por exemplo. Já vejo mais cores. Acredito que a nossa presença deva estar em todos os lugares, precisamos de mais representação na vida real. É preciso ocupar espaços com permanência e ter diversidade em cargos de chefia e formar talentos ao mesmo tempo. Ser antirracista é agir”, justificou.
Maju revelou que sua referência na infância era Gloria Maria. “Eu recebo tantas fotos, áudios e mensagens, é muito forte e gratificante. É uma explosão de fofura! Eu não tive isso. Claro, Gloria Maria era a minha referência desde a infância, e sei que ela apresentou o RJTV, mas como eu sou de São Paulo, não a via diariamente. Então, é difícil cair a ficha quando vejo o volume de depoimentos que recebo. Acredito que o sonho é o primeiro passo para abrir essa janela que faz com que mais crianças se vejam na TV em múltiplos espaços e que isso as estimulem a conquistarem o um futuro brilhante”, concluiu a apresentadora.